Viagens

Tudo o que você precisa saber sobre viajar com crianças para a Itália (e outras cositas más)

October 21, 2019
Capela de Madonna di Vitaleta na Toscana

Esse não é um blog sobre viagens. Quando resolvi começar a escrever esse blog, eu tinha tantas outras ideias do que falar, mas como estava com a mão na massa no assunto da viagem para a Itália, e tanta gente me perguntou tanta coisa sobre viajar com crianças, achei que nada seria mais apropriado para esse post inaugural.

Em resumo, viajar para a Itália com o Murilo foi maravilhoso. Ele está com 2 anos e 9 meses e curtiu como gente grande. Eu sou do time de que viagem tem que ser legal para todo mundo e que criança existe no mundo inteiro, então não existe lugar que “não é para criança”. Sair de casa organizada, com as expectativas corretas e querendo que dê certo já é 90% do caminho andado para ter uma viagem incrível, não importa para onde seja.

Roteiro

Nosso roteiro foi:

  • 2 dias em Milão
  • 1 dia de bate-volta em Torino para assistir o jogo da Juventus, partindo de Milão
  • 1 dia de bate-volta em Verona, partindo de Milão e terminando em Veneza
  • 3 dias em Veneza
  • 3 dias em Firenze
  • 5 dias na Toscana, fazendo passeios de um dia em Lucca, Pisa, Elba, Siena, Montalcino, San Gimignano, Montepulciano, etc.

Eu sou do tipo de pessoa que gosta de explorar tudo o que tem para se ver em um determinado lugar, por isso dei bastante tempo para cidades que dizem por aí que “dá para fazer em um dia”. Realmente, dá para chegar, tirar uma foto na atração principal e ir embora, mas viajar para mim é muito mais que isso, e crianças precisam de mais tempo, por isso tantos dias em cada lugar.

Hospedagem

Nessa viagem, optamos por ficar em Airbnbs. Já tínhamos ficado em hotel com o Murilo ano passado quando fomos para a Argentina e não gostamos da experiência.

Em hotel, não temos opção além de ficar no mesmo quarto que ele e, como ele dorme cedo, ficamos muito limitados dentro do quarto, sem poder acender a luz, comer ou fazer barulho depois que ele dorme. Ele também sentiu falta de espaço e acabava ficando muito agitado dentro do quarto, o que fazia com que ele demorasse séculos para pegar no sono.

Dessa vez escolhemos Airbnbs onde ele tivesse espaço para andar, brincar, explorar, onde ele tivesse o próprio quarto. Queríamos poder jantar, tomar um vinho e lavar as mamadeiras tranquilos em um cômodo separado da casa, sem medo de acordá-lo.

Escolhi Airbnbs de “superhosts”, que são anfitriões extremamente bem avaliados por quem já se hospedou com eles e que fazem de tudo para agradar os hóspedes. No próprio site tem um filtro de superhosts, então se você não quiser perder muito tempo procurando as melhores casas, vá direto nesses que não tem erro.

Também filtrei por Airbnbs que tinham máquina de lavar roupa. Íamos ficar 16 dias, mudar de cidade várias vezes e andar de trem com as malas, então levamos roupa para 5 dias e fomos lavando, assim não precisaríamos carregar tanto peso.

Nossos Airbnbs foram:

Milão | Veneza | Firenze | Toscana

No meu perfil do Instagram tem um destaque chamado “Itália” com um tour de cada um dos Airbnbs que ficamos.

Alimentação

Comer na Itália é bastante tranquilo, tanto para adultos quanto para crianças.

É importante saber que todos os restaurantes dividem o menu em “Primo Piato” e “Secondo Piato”. O primo piato é geralmente uma massa ou risotto. O secondo piato é geralmente uma carne. A ideia é que você coma os dois, mas primeiro que em alguns restaurantes, os pratos eram tão grandes que eu jamais seria capaz de comer dois daquele. E segundo que, infelizmente, com o Euro a quase R$5 e cada prato custando entre €10 e €20, simplesmente não dava para pedir dois pratos por pessoa. Mas saiba que você não é obrigado a pedir um primo e um secondo. Eu geralmente escolhia uma combinação de primo e secondo para mim e para o Murilo e, como ele sempre queria comer o que eu estava comendo não importa o que fosse, ele acabava comendo parte do meu, e eu comia parte do dele.

Um dos motivos porque escolhemos ficar em Airbnbs foi também para jantar em casa. Escolhemos jantar em casa principalmente em Veneza, onde os restaurantes eram mais caros, e na Toscana, onde os restaurantes eram mais distantes. Em todos os lugares você encontra comida pronta no supermercado, tipo rotisserie. Tem pratos individuais e grandes de todos os tipos – massas, risottos, carnes, saladas. Isso foi super importante para a gente não gastar tanto com comida e também para equilibrar um pouco as refeições do Murilo, já que em restaurantes, ele acabava invariavelmente comendo macarrão todos os dias.

Eu também aproveitava o supermercado para comprar café da manhã e lanchinhos. Uma coisa que adoro quando viajo é comer tudo o que não tenho oportunidade de comer no Brasil. Nos empanturramos de amoras, framboesas e blueberries todos os dias, e comprava bastante frutas para compensar também que o Murilo não estava comendo tantos legumes quanto eu gostaria. Experimentamos todos os biscoitos e bolinhos do supermercado e obviamente Lindt a €1, porque ninguém é de ferro.

Gelato todos os dias também era obrigatório. Nossos favoritos de longe foram os da Strega Nocciola em Firenze, que tem o melhor sorvete de pistache que eu já tomei, e Gelateria Dondoli em san Gimignano, que tem sabores diferentões como framboesa com alecrim, que era divino!

Acessibilidade

Vamos estabelecer algumas expectativas aqui. Na Europa, a maioria dos prédios turísticos tem quase mil anos de idade. MIL. Quando eles foram construídos, não existiam carros, elevador, sequer energia elétrica. Portanto, não espere calçadas largas, lisas e elevadores em todos os lugares.

Fomos com o espírito de que íamos subir quantas escadas fossem necessárias com o carrinho do Murilo nas costas e, se tivesse elevador, ótimo!

Alguns lugares tinham, outros não. Em alguns, os funcionários eram super solícitos para ajudar a subir com o carrinho. Em outros, pediam para dobrar e deixar na entrada, pois seria mais fácil que tentar subir. É importante dizer que não passamos nenhum perrengue por estar com o carrinho.

Mais ou menos metade dos museus e restaurantes tinha trocador. Mas como eu já fui com zero expectativas, na maioria das vezes eu deitava o Murilo no carrinho e trocava ele ali mesmo, era mais fácil que procurar um banheiro com trocador, e muitas vezes o trocador ficava trancado e precisávamos chamar um funcionário para abrir.

Transporte

Uber

Uber na Itália é proibido. Por isso, a oferta de carros é super baixa e os valores mais caros que taxi. Existem alguns aplicativos de taxi, mas na nossa experiência, ou eles não funcionam, ou os motoristas não sabem usar direito, então não valeu muito a pena.

Na maioria das cidades turísticas você encontra pontos de taxi em qualquer lugar, e como existem limitações de onde os carros podem andar, você acaba fazendo tudo a pé mesmo.

Trem

Nosso meio de transporte preferido nessa viagem foi o trem. Todas as mudanças de cidade que fizemos foram feitas de trem e as grandes vantagens são:

  • Se você compra com antecedência, fica barato. Inclusive quando comprei as passagens, a diferença entre passagens normais e de primeira classe eram mínimas, então comprei todas de primeira classe
  • Você chega na plataforma 5 minutos antes do trem partir. Não tem que despachar mala, não tem controle de passaporte, não tem raio-x, não tem que esperar a mala sair do final e você perde muito menos tempo que em avião
  • Os assentos são enormes e confortáveis, tem serviço de bordo e banheiros gigantescos com trocador

Porém um ponto importante para saber – como não existe despacho de mala, é você que tem que entrar e sair sozinho com todas as suas malas e pertences de dentro do trem nos poucos minutos em que ele fica parado na estação. Por isso é importante se planejar para não carregar muitas malas nem muito peso. Todos os vagões têm um espaço ao lado da porta com prateleiras onde você mesmo coloca suas malas e, se encher, não tem muito o que fazer. Como estávamos na primeira classe, que é mais vazia, sempre tinha bastante espaço, o que é mais um bom motivo para escolher primeira classe.

Ferry

O ferry foi uma das coisas que mais nos surpreendeu nessa viagem. Estávamos esperando uma balsa que você para o carro em cima e fica dentro do carro, mas o ferry que pegamos parecia um navio de cruzeiro.

Você para o carro em uma garagem dentro do navio e vai para uma área que tem lounges, cafés, banheiros, brinquedão, fliperamas e televisão. Os banheiros tem trocador e tem até uma salinha de amamentação com vista para o mar. Com certeza fez da nossa travessia de 1 hora para Elba bem mais tranquila.

Dirigindo na Itália

Alugar um carro na Toscana foi, sem dúvida, uma das melhores escolhas que fizemos, para termos a flexibilidade de irmos onde quiséssemos no horário que quiséssemos. Porém, dirigir na Itália não é a coisa mais simples do mundo.

Aqui vão algumas dicas:

  • Nós tiramos a PID (Permissão Internacional para Dirigir). Uma amiga tinha me dito que a locadora de veículos não tinha deixado ela retirar o carro na Itália sem a PID e, quando fui atrás, descobri que pelo acordo que o Brasil tem com a Itália, turistas só podem dirigir com a PID, só a CNH não vale. Algumas locadoras podem até te permitir retirar o carro, mas se você for parado pela polícia, não há jeitinho ou “eu sou turista, eu não sabia” que possa te ajudar. O ponto positivo é que se você tem CNH, tirar a PID é super fácil – você entra no site do Detran do seu estado, paga a taxa e eles enviam a PID na sua casa, simples assim. Outro ponto positivo é que ela vale para mais de 100 países e por até 3 anos, então se você tem outras viagens programadas, acaba valendo a pena.
  • Os pedágios na Itália utilizam a distância que você viajou para calcular o valor. Quando você entra na estrada, você passa em uma praça de pedágio para retirar um bilhete. Quando você sai da estrada, você precisa inserir esse bilhete na máquina para ela calcular quanto você deverá pagar. Existem cabines específicas para dinheiro, cartão e Telepass, que é como o Sem Parar deles. Nenhum carro alugado tem Telepass, então você deve passar nas cabines de cartão ou dinheiro (nenhuma cabine tem seres humanos, tudo é feito em máquinas).
  • Na Itália, assim como em toda a Europa, a maioria dos postos de gasolina não tem frentista, quem abastece o carro é você. Nos postos onde tem frentista, geralmente existe uma bomba específica onde o preço da gasolina é em média €0,20 mais caro para alguém te servir. Se você nunca colocou gasolina sozinho, sugiro procurar por vídeos no Youtube que ensinam a fazer isso especificamente na Itália. Mas basicamente, você deve ir até uma máquina, selecionar o valor que deseja abastecer, informar a bomba onde você está e a máquina libera a pistola com a quantidade exata que você informou. Mas veja como fazer no Youtube, foi bem útil para conseguirmos fazer pela primeira vez.
  • Você precisa saber sobre uma coisa chamada ZTL – Zona de Tráfego Limitado. Em praticamente todas as cidades, existe uma área onde só os moradores locais podem circular sem levar multas. O Google Maps e Waze não sabem disso. Essas áreas geralmente são informadas por placas enormes, com parágrafos de texto que você não vai ter tempo de ler antes de passar por elas. Algumas ZTLs são permanentes, outras só valem em determinados meses do ano e horas do dia. Antes de ir para qualquer cidade, procure sobre as ZTLs, pois geralmente atrás de cada placa existe um radar que já te multa. O que nos leva para nossa próxima dica…
  • Antes de chegar em uma determinada cidade, procure pelos estacionamentos públicos. Os estacionamentos são feitos para turistas e ficam, obviamente, fora das ZTLs. Eles geralmente ficam nas bordas das cidades e dão fácil acesso a pé para as principais atrações, então é a melhor opção para evitar as ZTLs. Alguns estacionamentos têm parquímetros, outros são garagens subterrâneas com máquinas de pagamento na saída. Se você procurar no Google “estacionamento em _______”, você encontra todos os endereços e preços que precisa para se programar e já dá para colocar o endereço do estacionamento no Waze.
  • Você vai ser a única pessoa na estrada dirigindo dentro do limite de velocidade, e tudo bem. Os italianos vão tentar de passar por todos os lados e vão buzinar, mas ninguém quer tomar uma multa em Euros, então fique tranquilo, vá no seu limite e deixe eles passarem.

Programas infantis

O foco da nossa viagem não era programação infantil, mas sempre tentávamos fazer coisas que o Murilo fosse curtir porque, de novo, a ideia é que a viagem fosse incrível para todo mundo.

Alguns lugares que planejamos ou encontramos ao longo do caminho foram:

Veja um post completo sobre ideias não óbvias de passeios para crianças em toda a Itália.

Em linhas gerais

Viajar para a Itália com crianças não tem nenhuma complexidade a mais do que as que já conhecemos em casa.

Em geral é fácil se comer e se locomover, as pessoas são bastante solícitas e simpáticas e tem programação suficiente para os pequenos se divertirem.

Você tem alguma dica de ouro para viajar para a Itália? Compartilhe aqui nos comentários.

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1 Comment

  • Reply Ideias de passeios para fazer com crianças na Itália December 23, 2019 at 12:57 pm

    […] Veja outras dicas para viajar para a Itália com crianças. […]

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